30 de dezembro de 2011

O mundo não acabou

     por Antonio Prata

          "Eis que a Terra completa sua duo milésima décima segunda volta em torno do Sol (desde que pegaram Jesus para Cristo), e, mais um vez, olhamos para trás, tentando entender se neste balaio de gatos que chamamos de 'um ano' há alguma lógica, alguma tendência, alguma chance de matarmos nossa imorredoura sede de sentido.
          A tarefa não é simples, pois nos 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos que duram o giro pelo rodoanel cósmico acontece de tudo um pouco - e vice-versa. 
          2011, afinal, será o ano em que o Corinthians foi chutado da Libertadores pelo Tolima ou aquele em que conquistou seu pentacampeonato brasileiro?
          Devemos nos orgulhar da posse de nossa primeira presidenta e da razoável calmaria em meio às intempéries globais ou lamentar a queda de sete ministros, quase todos por indício de corrupção?
          A polícia carioca subiu a Rocinha sem dar um tiro; da PM paulistana vazou o vídeo em que o soldado gritava "estrebucha!" para um homem baleado. E aí?
          Não bastasse a infinidade de acontecimentos, um único fato ainda pode abrir-se a diferentes leituras. A morte de Bin Laden foi um momento de alívio para todas as suas vítimas passadas e futuras ou o instante em que Obama, o arauto da concórdia - e, vale lembrar, Nobel da Paz - meteu o Iluminismo e o colar havaiano no saco e adotou as mesmas práticas dos caubóis que tanto condenava?
          Há, também, aqueles eventos simplesmente incompreensíveis para a maioria dos mortais, como a notícia que cientistas teriam encontrado a 'partícula de Deus'. Seria uma lasca da unha de Javé? A foto de um raio da aura do Espírito Santo?
          Mistérios da física (ou da metafísica), que, como tantas outras questões, só serão solucionadas com o passar do tempo; a Primavera Árabe vai dar frutos ou as folhas amarelarão, em um frustrante outono? O movimento 'Ocupe' ajudará a diminuir a distância entre o 1% e os 99% ou virará só mais um bóton em uma mochila, no Espaço Unibanco de Cinema?
          No fim das contas, a única afirmação que se pode fazer sobre 2011 é que, contrariando os temores trazidos pelas águas de março e janeiro, nos tsunamis do Japão e deslizamentos do Rio, o mundo não acabou.
          Apesar das tragédias, e, mesmo sabendo o quão arriscadas são as previsões, ouso apostar que no futuro nos lembraremos deste ano com um sorriso no rosto.
          Não pelo declínio de ditadores, pela autorização do STJ ao primeiro casamento gay ou por Neymar continuar no Brasil, mas por ser o ano em que as fotos do celular de Scarlett Johansson caíram na internet, recordando-nos que a natureza pode gerar o caos, a destruição e nos condenar a girar em torno do Sol, vez após outra, repetindo as mesmas perguntas sem respostas, mas, quando quer, é nota dez nos quesitos harmonia, alegria e evolução.
          Que venha 2012!" 

26 de dezembro de 2011

Doze uvas, 365 Momentos

          Estamos na época de esperanças, planos, felicidades, rituais, festas e confraternização. No embalo dos presentes e canções de Natal embarcamos quase que mecanicamente nas viagens e fogos do Ano Novo.
          Na noite da virada o que importa é ser feliz, comemorar as conquistas, vitórias e acontecimentos do ano que se vai e desejar sucesso e sorte para o ano que se inicia. Permeando tudo isso (e muito mais...) superstições, simpatias e tradições comandam a noite de reveillon. Pular sete ondas, comer doze uvas e associar seus gostos a cada mês do ano, guardar uma folha de louro na carteira, dar tres pulos com uma taça de champagne sem derrubar uma gota, enfim, tudo vale para trazer boas energias e 'jogar fora' o agouro e azar do ano que esta se esvairando. 
          Na Itália, por exemplo, comer ao menos uma colher de sopa de lentilha é o suficiente para assegurar fartura à mesa durante o ano inteiro. Para os portugueses, comer a quantidade de bagos de uva correspondente ao seu número de sorte garante prosperidade e fartura de alimentos, além de dinheiro; mas é claro, se as sementes forem guardadas na carteira até o próximo Ano Novo.
          Das Arábias veio a ideia de que nozes, avelãs, castanhas e tâmaras podem garantir fartura e sorte. Hábito africano, por sua vez,  são as vestes brancas, que simbolizam paz, pureza e bondade para o ano advento.
          Vestimentas amarelas e douradas para atrair fortuna e sucesso; azuis e turquesas para dar paciência e tranquilidade a quem os veste; usar o rosa e o vermelho para desejar amor ou paixão e até mesmo o roxo e o lilás para trazer sabedoria às novas decisões do novo ano fazem parte, outrossim, do nosso vasto e misto supersticioso Ano Novo.
          Seja advindo da Europa, da África ou das Arábias, cada brasileiro mantém sua tradição e seu ritual, assim como diversas outras pessoas ao redor do globo, na esperança de melhoras e de realizações, ou simplesmente pela alegria de aproveitar,  desfrutar e desvendar um bom e divertido reiveillon.

22 de dezembro de 2011

Blink of an Eye

          Dizem que um olhar vale mais que mil palavras. Dizem que há palavras que não expressam a emoção sentida. Dizem que a vida passa em um piscar de olhos. Dizem, ademais, que momentos marcam uma uma vida, uma história.
        Então que seja através de uma ou de cem imagens para o olhar ser válido, para as emoções serem ditas, para a vida perlongar na eternidade, para vários e vários momentos valerem a pena e para que estes por fim, escrevam a sua, a minha e a nossa história. 


          
 
Imagem de Anuar Patjane. Chuva torrencial de monção em Bhaktapur, no Nepal.


O fotógrafo James Vernacotola registrou o lançamento do ônibus espacial Endeavour STS-130 em Ponte Vedra, na Flórida, EUA.


 Uma vez a cada ano, os pescadores de Taipei, em Taiwan, realizam um ritual de pesca com enxofre e fogo. Foto de Hung-Hsiu Shih.


 A imagem foi feita nas Ilhas Riau, na Indonésia, pelo fotógrafo Shikhei Goh.


 A foto acima, feita em Hokkaido, no Japão, mostra um lago turístico da região durante o inverno. Foto de Kent Shiraishi.


 O fotógrafo Angel Fitor, de Múrcia, na Espanha, registrou a água-viva Cotylorhiza tuberculata próxima à superfície do mar.


 Foto tirada por Marius Coetzee em um safári fotográfico no Parque Nacional do Serengueti, na Tanzânia.



A imagem mostra a dupla e rap G-Side em Nova York, nos EUA.
Fotografia de Helen Pearson.




          As fotos acima foram vencedoras do concurso ou ganhadoras das menções honrosas nas categorias Natureza, Pessoas e Lugares do 'Concurso Fotográfico 2011', oferecido pela revista 'National Geographic'. Essas e outras mais 6 fotos foram escolhidas entre as 20 mil enviadas por participantes de 130 países.

7 de novembro de 2011

Os livros de Marx e Gutemberg

          A imaginação e a realidade humanas andam juntas desde os primórdios da nossa existência  dando origem a mitos, religiões e simbologias, construindo cidades e civilizações, fazendo de fatos, pessoas e obras, imagens positivas ou negativas de eras, povos e dos indivíduos em si. 
          No apogeu da era Renascentista, Gutemberg publicou o primeiro livro impresso da história, a Bíblia Católica, marcando a evolução e criações tecnológicas da época da razão e do homem. O mesmo livro rege ainda uma das maiores religiões do mundo, representando-a apenas com uma imagem e com uma cruz.
        Durante a Revolução Industrial, as lutas proletárias, assim como as revoluções socialistas de tempos depois, associam-se diretamente ao "Manifesto Comunista" de autoria 'Marxiana', obra, a qual, mudou o mundo, as indústrias e a percepção humana. 
          Livros de autoajuda serão vistos daqui algum tempo como os símbolos e obras do século XXI, evidenciando o desespero e a perda intimista do ser humano. 
        Os livros são,portanto, símbolos, imagens de uma época, de um indivíduo, de uma história. São marcos queimados, lidos, escritos, 'pixados' e interpretados que perpetuarão a representar o homem, ao longo dos tempos e ao longo das infindáveis páginas da vida e da história.

23 de outubro de 2011

Carta para Tito




           por José Roberto Torero

          Futebol também é cultura. Hoje, para júbilo e gáudio dos amantes das letras clássicas, publicarei uma carta do imperador Vespasiano a seu filho Tito. Vamos a ela:

          "22 de junho de 79 d.C. 
        "Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os vulcões e os jornalistas. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto e, dando-te muitas alegrias e infinita memória. 
          Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro. 
         Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por omnia saecula saeculorum, e sempre que o olharem dirão: 'Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou'.
         Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão.
          Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego vê isso).
       Portanto deves construir esse estádio em Roma, assim como a gente de Brasília construirá monumentais estádios em Natal, Cuiabá e Manaus, mesmo que nem haja ludopédio por esses lugares.
         Só para você ter uma ideia, o campeonato de Mato Grosso teve média inferior a mil pessoas por partida, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, terá capacidade para 43.600 espectadores. Em Recife haverá um novo estádio, mas todos os grandes clubes já têm o seu. Pior será a arena de Manaus: terá 47 mil lugares e, no campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o público total foi de 37.971.
       As gentes da Terra Papagalli não ligaram nem mesmo para o exemplo dos sul-africanos, que construíram cinco novos estádios e quatro são deficitários.
       Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo).
        Esperarei por ti ao lado de Júpter."

          PS: Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito não inaugurou o Coliseu com um jogo de Copa, mas com cem dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo senado romano.

19 de setembro de 2011

Fantasmas Gregos

        Em 1889 foi instaurada a República no Brasil, a partir da qual homens e oligárquicos adquiriram o direito de decidir e argumentar sobre sua mais nova pátria. Com o movimento feminista do século XX, as mulheres conseguiram tal igualdade e, em 1988 através da Constituição, os jovens conseguiram tais direitos.
       Durante governos autoritários, abusos e fraudes no poder - principalmente entre as décadas de 1960 e 1980 - o povo foi responsável pelas mudanças na política nacional, a exemplo do fim da Ditadura e da saída de Collor do governo.
            Foi o povo, outrossim, que elegeu em 2001, um sindicalista à Presidência da República, o qual melhorou consideravelmente as condições da população, além de propiciar um desenvolvimento antes quase utópico.
          Entretanto, nada seria como foi sem a atuação dos jovens estudantes nas mudanças em nosso país.
            Através de sindicatos, associações ou grupos estudantis, os jovens têm muito daquilo que se perde quando adulto: a esperança e força de vontade. Sendo estas, por sua vez, direcionadas a projetos sociais, fiscalização de obras públicas e até mesmo cobrança das promessas de palanques.
         Quanto mais cedo os adolescentes se conscientizarem sobre a política nacional (através de palestras, debates e atividades práticas), mais os antigos fantasmas gregos da época de Círio aflorarão, fazendo com que lembremo-nos das nossas conquistas e justiça passadas, assim como a utopia do apogeu democrático no século V a.C. concretizado, por sinal, também por jovens "guerreiros políticos" gregos.
         

2 de setembro de 2011

The Farewell of a Dream

         At the most beautiful or important moment of a dream, when we don´t want to leave it and we're enjoying that sweetie emotion, life and time get a way to wake us up. 
          Life is like a dream always ready to change, to inspire us or destroy us, but always, in the same way, to make us happy again. When we are kids, nothing is impossible, climb the Everest mountain just climbing the walls, be an astronaut only using a cassette recorder or even be a lost and defenseless princess in a tower using a crown made of paper and being closed in our bedrooms.
          But then we grow up. Suddenly imagination is not enough and we start to dream about things we see and inspire us. Our goal now is practice to be the new rock star, the successful doctor, the famous racing driver or maybe, who knows, the president of our country.
           However life, time and now reality, attack us with books, duties, with the gray shadows of a grown up world. And suddenly as a sand castle dissolves with the dance of sea's waves, the dream becomes a nightmare and apparently impossible to become true. We accept to turn ourselves into a cold, unfeeling and 'no creative' person, living all our world built in a tree house behind. 
          Time crosses our lives again and we learn how to dream again, reminding with love and affection the old times when a dream wasn't only images, feeling and sounds inside our minds, but it was a simply and sincere way of life. 
          Getting a certain age, we will see the most wonderful, graced and unpredictable dream we could have ever dreamed, and so, finally understand it and its different meanings and interpretations and when it happens then we will be ready to say farewell to this sweetie and remarkable dream: our life.

21 de agosto de 2011

Prateleiras em Extinção

    por Barbara Gancia   
     
          "Era só o que faltava. Vem esse espertinho do Steve Jobs querer bagunçar o coreto bem no meio do 'meu processo'. Justo agora que a tia Sukita aqui esta começando a entender a diferença entre upload e download chega esse pilhador do salário alheio e detona a bomba. 
          Por que eu decidiria guardar tudo o que é meu no seu armazém, sr. Jobs? Quem disse que uma consumista ao meu molde e feitio será capaz de abrir mão de seus quindins?
          Não sabe que tenho xodó pelo meu CD com capinha metálica do Jaques Lu Cont ou que a vida não pode ser vivida em glória sem a companhia do DVD 'Easy Rider-Special Edition', que acompanha livretes com fotos?
          De onde o maluco da Apple tirou a ideia de que vou guardar os meus documentos, as fotos, os livros, enfim, meu mundinho idealizado do Zé Rodrix, numa nuvem que ele chama de iCloud (aí, Cláudio!) em algum canto virtual que alugarei no éter como se fosse vaga de estacionamento da Estapar?
          Não sei se o nobre leitor percebeu o cenário que nos espera. Não bastasse dedicar a quase totalidade de minhas entradas mensais à compra de músicas e aplicativos, agora torrarei até o último centavo em giga ou google, lá em uma dimensão que é manifesta, mas não táctil.
          Minha mais recente despesa no iTunes foi ums trena digital, a 'Easy Measure', que tem ajudado horroses na reforma da casa nova. Você aponta o telefone para o objeto e surge no visor uma régua com marcação.
          Certas coisas facilitam a vida, ainda que uma reforma seja uma reforma, seja uma reforma (Gertrude Stein), empreitada que mistura as emoções de um ataque terrorista com as de ser destroçado por um mandril faminto enquanto um tsunami destrói tudo. 
          E isso porque ainda não chegamos aos acabamentos. Aí você pode incluir no pacote a sensação de afogamento por enchente ao mesmo tempo em que é devorado por piranhas. Note que ainda tenho mais três meses (numa previsão otimista) até o fim da obra. 
          Nos últimos dias, estivemos às voltas com a estante da sala, um trabalho que eu compararia em dimensão a Angkor Wat, com prateleiras que ocuparão toda a parede da sala.
          Ali eu planejava colocar livros e CDs, álbuns, a aparelhagem de som com woofer, subwoofer, tweeter e equalizador, meus dicionários de línguas, sinônimos, etimologia, expressões idiomáticas, o 'Roget's Thesaurus', a 'Encyclopedia Britannica', a 'Barsa' e a italiana 'Enciclopedia Treccani', tudo da maneira mais espartana possível para ir acomodando os livros que virão pela frente. 
          Mas daí chega a notícia de que, a partir de novembro, o hardware não só será externo como virtual. Muito bem. Já percebi que serei obrigada a operar algumas mudanças. E que não necessariamente devo começar por woofer, subwoofer e equalizador. 
          Pois então. Se nos próximos dias você vir um saco boiando no Tietê com uma pilha de dicionários colhidos pelo ácaro, CDs de caixinha rachada, DVDs de seriados que nunca mais serão vistos, mais um monte de fitas VHS e até um floopy discs jogados no meio do embrulho, juro que não fui eu que atirei no rio."

20 de julho de 2011

Metamorfose Social

          A simples palavra "mudança" transtorna a todos, causando calafrios e dúvidas àqueles que estão prestes a sofrê-la. A razão para tal comportamento dá-se ao medo da interferência no cotidiano, nos nossos objetivos e, principalmente, da alteração e invasão da nossa chamada 'zona de conforto'.
          O mesmo acontece no âmbito social. Uma mudança social só é possível quando o que compõe um grupo social ou uma sociedade esta disposta a se adaptar. No Brasil, uma mudança social proveniente do Colonialismo para o Patrimonialismo teria de, primeiramente, atingir a mentalidade das pessoas (daquelas que exercem ludibriadamente o Colonialismo através das elites urbanas, latifundiários rurais e militares centrais, além da população em geral), visto que a transição as atingirá de alguma maneira (seja no uso, nos costumes, nas ações ou comportamentos sociais).
          O Colonialismo, por sua vez, ocorre quando é exercido um controle ou autoridade sobre um território, uma administração, sociedade ou governo; em contrapartida, o Patrimonialismo constitui o Estado e o privado como um só. Para a mudança social de um para o outro (visto que possuem diferentes perspectivas) a transformação das relações entre as pessoas, assim como uma mudança cultural, seriam imprescindíveis e usufruiriam, outrossim, de meios materiais, técnicos, figurativos e oriundos de tradições, pensamentos e costumes para ocorrer.
          A força de vontade, a coletividade, a organização e mobilização social fundamentariam a mudança social, a qual dependeria então, de uma ideologia avassaladora, capaz de instigar o povo bradileiro a sair de sua 'zona de conforto e comodidade cultural e social' afim de promover uma transmutação de maneira significativa. Os interesses e benefícios entrariam em pauta e seriam essenciais para essa mudança que, mesmo parecendo difícil e muitas vezes uma utopia, faria a diferença e modificaria o curso da sociedade - e da história -, alterando o rumo da sociedade e da população, renovando juntamente - e quem sabe enfim - o "jeitinho brasileiro" de ser, agir e pensar.

10 de julho de 2011

Um belo dia de céu negro

          Vejo carros ao longe passando.
          Luzes móveis.
          De repente me pergunto: 'que tipo de anjos elas carregam?'

          O céu então escureceu,
          Mas o silêncio permanece.
          Acordei na calmaria
          do borbulhar do mundo.

          Fico a olhar, mas nada acontece.
          Apena luzes acesas
          na cidade de tela negra.

17 de maio de 2011

O virar de uma página atempotal

           A literatura é uma das várias formas de "escape" do homem. É através desta que percebemos o mundo, os homens e os tempos a sua volta.
          No Trovadorismo rimas cantadas cortejavam secretamente as damas nas tavernas. No Clasissismo o mundo grego foi reinventado, assim como Camões e sua viagem às Índias.
          A natureza e a simplicidade da felicidade humana foram os altares do bucólico Arcadismo. O homem foi então venerado e as novas ideias renascentistas fundamentaram o Humanismo dos séculos XIII e XIV.
          Contra o homem e o renascimento, o beato Barroco surgiu e desapareceu nas lágrimas e vaias de morte e sonhos dos românticos.
          A sociedade e toda a modernidade foram contestadas no Realismo e nas inusitadas vanguardas europeias, abrindo portas e novas perspectivas para o que viria a seguir.
          Poetas como Carlos Drummond de Andrade abordaram com mais ênfase o "eu todo retorcido" que há em cada um de nós, assim como o choque social e a relidade e concretização de sentimentos e emoções.
          Estamos vivendo uma nova época literária, ainda sem nome e jeito, mas com certeza com um reflexo misto, compulsivo, agitado e depressivo, basta agora saber como esse novo capítulo será escrito, pois o homem reinventa-se, o mundo o segue e a literatura se transforma, acompanhando seus tempos e contratempos, suas prosas e anti-poetismo, suas métricas e rebuliços. Como dizia Machado de Assis "... cada estação da vida é como uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também.", assim como o homem, assim como o mundo e assim como seu espelho: os livros.

28 de março de 2011

Educação, o 'negócio da China'

                                                                                                   por Fábio Brabosa
         
          "A CHINA já é uma superpotência e o mundo já mudou em razão disso. A novidade é que vem mais por aí e as implicações políticas e culturais disso marcarão o século 21.
          O crescente apetite da China por matérias-primas, petróleo e alimentos elevou substancialmente o preço desses bens, em muitos casos, isso beneficiou, e bastante, a economia brasileira.
          Em outros setores, o impacto causado pelos chineses é negativo para o Brasil, por conta da competitividade de seus produtos manufaturados. Temos que nos preparar para lidar com essa realidade, trabalhar as questões ligadas ao 'custo Brasil' e acelerar as negociações, pois o fenômeno China veio para ficar.
          Muitas vezes ouço previsões de que o modelo chinês não se sustentará e várias razões que aparentemente fazem sentido são apresentadas para suportar esse argumento.
           Possível bolha imobiliária, qualidade dos ativos dos bancos, migração rural, demanda por maior abertura democrática etc. estão frequentemente na lista dos alertas feitos repetidamente nos últimos muitos anos. O fato, porém, é que a economia chinesa cresceu a uma média de 9% anuais nos últimos 34 anos - e há 33 anos os economistas ocidentais dizem que esse crescimento não vai perdurar!
          Esse erro de avaliação sugere que temos um frágil conhecimento do que acontece na China. Não pretendo aqui ter respostas definitivas sobre o processo do desenvolvimento chinês, mas sim chamar a atenção para alguns aspectos e mitos.
          O primeiro destaque que faço é sobre a percepção que se tem de que a China só cresce na faixa litorânea ou nas zonas ligadas à exportação.
          Há poucos anos, viajei pelo interior da China para regiões pouco visitadas por turistas estrangeiros e pude ver quão abrangente é a mudança que ocorre em todo o país. Claro que de forma desigual, mas ainda assim é comum encontrar aeroportos, estradas, banda larga e hotéis modernos e de bom nível.
          O mercado interno chinês é gigantesco, e um exemplo é que neste ano a China deverá produzir perto de 16 milhões de veículos (o Brasil produziu 3,6 milhões em 2010), tornando-se o maior produtor mundial, e quase tudo para consumo interno.
          O segundo ponto tem a ver com os produtos chineses, muitas vezes associados a menor qualidade. Isso está mudando. Empresários comprovam a evolução por conta dos equipamentos industrias de alta tecnologia que compram da China.
           Assim como seus vizinhos Japão e Coreia do Sul, que entraram no mercado global com produtos de baixo valor agregado e rapidamente migraram para produtos de alta qualidade, a China avança rapidamente.
           Mas o que realmente parece dar sustentação a essa arrancada da economia chinesa é o salto na educação. Os chineses estão estrategicamente investindo nos seus jovens.
           Alguns dados: há cerca de 130 mil chineses em cursos de pós-graduação nos EUA; há mais de 300 milhões de crianças aprendendo inglês na China, quatro universidades chinesas apareceram no recente ranking das cem melhors do mundo (nenhuma brasileira, a propósito).
           Xangai apareceu em 1º lugar num relatório divulgado pela OCDE em que o Brasil ficou em 53º lugar. um caminhar pelas ruas de Boston ou de Oxford comprovará o tanto que há de estudantes nesses locais, assim como se pode passear por Pequim, ou uma cidade do interior, e testemunhar que a garotada já sabe arranhar bem o seu inglês.
           Portanto, o que acontece na China não me parece algo passageiro ou fruto de uma estratégia apenas focada em subsídios ou distorção cambial. A crescente eficiência da China está sendo alicerçada com vultosos investimentos na qualidade da educação em todos os níveis.
          Podemos continuar a protestar e tomar medidas protecionistas de curto prazo contra os produtos chineses. Até concordo que, em alguns casos, isso é necessário, mas estou convncido de que seria mais útil devotarmos nossa energia para aumentar a eficiência de nossa economia e, sobretudo, transformar nossos níveis de educação." [...]

24 de março de 2011

Tristan Tzara, dos jornais aos sonhos.

Tristeza. Yellow.
Desenho. Rabisco. Dibujo.
Amor. Lágrimas. Quietude.
In you.
Flashes. Escritos.
Preto.
Teoria do acaso.
Notas. Sons. Vozes. Magie.
You.
Pessoas. Orquestras. Satisfação. Talento.
Sam. Hermman. You.
Canon. Tormenta.Verführung. Swan.
Ondas. Cinza. Mar.
Olimpo. Tormenta. Vento.
Raios e labutações.
Rochas. Ruivo. Topo. Lächeln. Rosso and Oltremare.
Bach. 
Neve. Sorrisos. Olhares. Choros.
Poesias e simplesmente você.

7 de fevereiro de 2011

Patriotismo Industrial

           Os interesses e vantagens no mundo capitalista e globalizado são o que ditam e pesam nas decisões entre governos e multinacionais. O mesmo ocorre com a Fiat, a sexta maior montadora de veículos da Europa em vendas.
           O anúncio do interesse em transferir a sede da montadora de Turim para Detroit, feita pelo presidente da insdústria nesta segunda feira (segue reportagem abaixo), não foi bem recebida pelo governo italiano, o qual irá, por sua vez, interpelar na decisão, alegando que a Fiat "precisa continuar sendo uma multinacional italiana".
          Interesses nacionalistas ou patriotas de amor à marca e orgulho ao brasão da montadora definitivamente não são os reais motivos para tamanha insistência por parte do governo italiano. Economicamente, a Itália apresentaria uma queda significativa em sua economia, já que vários setores dependem da empresa direta ou indiretamente para se manter e se desenvolver, a exemplo da exportação, empregos, desenvolvimento tecnológico, lucros nacionais, e muitos outros. Politicamente, o semblante italiano ficaria marcado e desvalorizado diate das comunidades europeia e mundial, visto que uma de suas maiores empresas iria acoplar-se e mudar-se para os Estados Unidos.
          Contornando a situação, a Fiat publicou que ainda avalia quatro centros administrativos após a fusão com a montadora americana Chrysler: Turim (mantendo um papel principal), Detroit, Brasil e (provavelmente) Ásia. A polêmica, todavia, foi lançada. É certo que o governo italiano irá lutar e debater, por sua 'tão amada' indústria, e também é certo que a Fiat - assim como qualquer outra multinacional - irá averiguar a situação e decidir qual será o melhor (e mais lucrativo) país e cidade sedes.

Segue abaixo o link da reportagem:
         

24 de janeiro de 2011

Histórias de lutas e conquistas

          Com o passar dos anos o ser humano aprendeu a lutar por seus direitos humano, físico e trabalhista, persistindo no aprimoramento destes, com o intuito de tornar sua vida e condições mais dignas do que um dia já foi.
          Em 1888 foi proibido no Brasil o domínio do ser humano assim como do trabalho por este realizado. A liberdade foi então, conseguida pelos escravos. No século XIX, durante a Revolução Industrial, perante às precárias e exploradoras condições de trabalho, pensadores como Karl Marx e Friedrich Engels mobilizaram-se, analisaram e propuseram uma solução para as difíceis condições dos proletariados das novas indústrias dominantes: "lutem!". E assim foi feito. 
          De 1800 até os dias de hoje sindicatos, revoluções, protestos, organizações e partidos trabalhistas lutaram contra os patrões e governos por melhores salários, condições de vida, distribuição de renda, carga horária, respeito e outros valores que constroem uma parcela do ser humano atual.
          A luta pelo que baseia nossos princípios e por aquilo que fazemos não irá acabar tão cedo. Os trabalhadores encorporarão novas ideologias às leis e normas trabalhistas vigentes, através de acordos, greves e mobilizações, transformando e adequando o cenário mundial a um futuro mais digno e justo ao ser humano e seus direitos, guiando o trabalhador a um futuro de conquistas pelo seu ser e fazer.
         

19 de janeiro de 2011

Determinação perante o Cálice

         
                Sagrado: ligado sempre - mesmo que implicitamente - à religião também pode ser interligado às diversas ciências humanas, como a antropologia, a sociologia, a psicologia e a história.
                Ao decorrer da história, o ser humano lidou de diversas formas com o efeito enigmático do sagrado sobre a humanidade, o qual possui funções como manter o ser e conservar a realidade deste (que por medo, adoração ou gratidão 'diviniza' o objeto ou ser sagrado de alguma maneira).
                O sagrado influi sobre a humanidade e resulta na sua própria capacidade de simbolizar, atribuindo aos objetos, coisas, espaços e seres um novo significado, tornado-os, então, sublimes.
               Intensamente presente nas atividades e reações humanas, o sagrado, portanto, não se resume apenas à religião, mas outrossim, à pura necessidade do ser humano de apegar-se e transceder uma coisa, um ser, um lugar, e outros símbolos, venerando e consagrando enfim, a potência sobrenatural que guia o nosso ser. 

4 de janeiro de 2011

Memórias de uma tarde

               Diante um ano novo que começaria, a chuva caía ininterruptamente, as palavras revelavam-se em um olhar, poemas e histórias diversas ludibriavam o tempo e o dia que nunca dizia adeus. Obrigada pelas palavras e risos, pelos fogos de artifício, pela magia que, nesta tarde, você pôde nos proporcionar.

   EM TEMPO

"O  tempo tudo destrói.
Até as palavras e o seu sentido.
Compete ao poeta agir no eixo implavcável de Cronos
para restaurar essa catexis e reatar a ligação
entre o Eu e o Outro.
Compete ao poeta recuperar a palavra.
A palavra primitiva não era descritiva,
mas certamente emotiva.
A palavra primitiva era a prórpia emoção.
No princípio era o fonema.
Do grunhido à palavra.
Esta, já atrelada ao morfema tornou-se vulnerável
à escamoteação, à mentira, tendo que lutar
contra tudo aquilo que a distanciava de sua
pureza original, do seu estado natural.
A função do poeta é desindexar a palavra.
Desintoxicar os morfemas e lexemas, tratando-os
e lavando e polindo e burilando.
Rousseau lembrava que na língua árabe havia mil
palavras para designar o camelo.
A língua gera seus filhos numa relação de amor.
Nascem palavras.
A língua árabe criou mil filhos para designar
um referente camelo porque havia uma intensa
relação entre o camelo e a sociedade.
Assim é o poeta.
Ele recria a possibilidade de amor, trilhando
um caminho onverso através da língua ele mostra
às pessoas novas possibilidades de compreender.
Ora, compreender é amar.
Procurei tomar-lhes o mínimo tempo possível.
Por favor, leiam."

                              Sérgio Graciotti Machado


   O INSTANTE

"uma bolha cresce
na boca da garrafa
como ilusão
depois explode"

                              Carlos Roberto Aricó


   MEU TEMPO

"poster de "Che" Guevara
aspiração solene no tempo mudo
tudo, tudo proibido
tudo calorosamente dolorido

enducerer
"sin perder la ternura"
belo sonho romântico
antes fosse esquecido

emudecer,
perder a ternura
exigência despótica
na cruel ditadura

gravura impressa, Renoir
impossível se expressar
impressionismo, expressionismo?

contudo o mudo cinismo
a honra à beira do abismo"

                              Carlos Roberto Aricó


   SONHO ECOLÓGICO

"a paz era tanta
que a bomba dormiu

sonhava que os átomos
brincavam de ciranda"

                              Carlos Roberto Aricó