4 de janeiro de 2011

Memórias de uma tarde

               Diante um ano novo que começaria, a chuva caía ininterruptamente, as palavras revelavam-se em um olhar, poemas e histórias diversas ludibriavam o tempo e o dia que nunca dizia adeus. Obrigada pelas palavras e risos, pelos fogos de artifício, pela magia que, nesta tarde, você pôde nos proporcionar.

   EM TEMPO

"O  tempo tudo destrói.
Até as palavras e o seu sentido.
Compete ao poeta agir no eixo implavcável de Cronos
para restaurar essa catexis e reatar a ligação
entre o Eu e o Outro.
Compete ao poeta recuperar a palavra.
A palavra primitiva não era descritiva,
mas certamente emotiva.
A palavra primitiva era a prórpia emoção.
No princípio era o fonema.
Do grunhido à palavra.
Esta, já atrelada ao morfema tornou-se vulnerável
à escamoteação, à mentira, tendo que lutar
contra tudo aquilo que a distanciava de sua
pureza original, do seu estado natural.
A função do poeta é desindexar a palavra.
Desintoxicar os morfemas e lexemas, tratando-os
e lavando e polindo e burilando.
Rousseau lembrava que na língua árabe havia mil
palavras para designar o camelo.
A língua gera seus filhos numa relação de amor.
Nascem palavras.
A língua árabe criou mil filhos para designar
um referente camelo porque havia uma intensa
relação entre o camelo e a sociedade.
Assim é o poeta.
Ele recria a possibilidade de amor, trilhando
um caminho onverso através da língua ele mostra
às pessoas novas possibilidades de compreender.
Ora, compreender é amar.
Procurei tomar-lhes o mínimo tempo possível.
Por favor, leiam."

                              Sérgio Graciotti Machado


   O INSTANTE

"uma bolha cresce
na boca da garrafa
como ilusão
depois explode"

                              Carlos Roberto Aricó


   MEU TEMPO

"poster de "Che" Guevara
aspiração solene no tempo mudo
tudo, tudo proibido
tudo calorosamente dolorido

enducerer
"sin perder la ternura"
belo sonho romântico
antes fosse esquecido

emudecer,
perder a ternura
exigência despótica
na cruel ditadura

gravura impressa, Renoir
impossível se expressar
impressionismo, expressionismo?

contudo o mudo cinismo
a honra à beira do abismo"

                              Carlos Roberto Aricó


   SONHO ECOLÓGICO

"a paz era tanta
que a bomba dormiu

sonhava que os átomos
brincavam de ciranda"

                              Carlos Roberto Aricó

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