16 de julho de 2012

Muralhas de Seda e Cetim

As muralhas eram grande na época.
Nada passava, nada ouvia,
nada transbordava, nada defendia.
Vinham exército de todos os planaltos e montanhas para invadí-la,
mas suas torres e ogivas - imensas e destrutivas -
impeliam a invasão, e a cegueira então permanecia.

O concreto enfim foi derrubado, aclamado pela multidão.
A muralha foi cantada por Fallersleben e ecoada pela união.
Guerras e divisões, por favor, não mais.
Era doloroso e a cicatriz ainda não curou,
permanece marcado o corte que, uma vez, a muralha os causou.

Avante, avante! A liberdade chegou!
sem mais muralhas de ferro, apenas pequenas muretas
de palavras, encantamento e heróis.
Rios e cachoeiras vinham - dos planaltos e montanhas guerreados -
permanecer empoleirados no muro que os continha
do levante, da opinião, da palavra e da euforia.

As tropas, nas alegrias que Caetano cantou,
levavam a muralha para mais longe.
Quando as tropas cessaram, a muralha se calou
do cântico glorioso que o soldado a ensinou.
Por sob a mureta do muro da muralha vinha a cortina
leve e graciosa como o ferro fundido,
como a sirene nas ruas, como o corpo abatido.
Não era de ferro, de concreto ou de retaliação, mas era feita de mera seda e cetim.

A nova cortina escode aquilo que não quer ver,
brinca por entre os homens como as éforas de Camões e como as sereias de Andersen.
Alguns a abrem, outros a fecham e ainda outros mais espiam por entre ela.
Vêem do outro lado um novo mundo, ditado por poucos sábios.
Sentem apenas o cheiro do abismo e da opulência,
do gasto e da irreverência.

Percebem ademais, os iluminado da caverna de Platão,
que a cortina é verde, como a gramínea que há no chão.
Que seda será essa, de colorido tão poderoso?
E que cetim será esse, com rostos póstumos tão pomposos?

Chegam mais perto e percebem que a leve cortina com eles fala,
soletra números e enumera palavras.
São ordens e perseverança de um ciclo interminável.
São palavras pesadas de discursos,
imperativos férreos da aliança,
o concreto fático da separação.

São números que vão e voltam,
no tempo e na destreza,
que provam que a muralha permanece lá
- não mais rígida e de tijolos feita -,
mas sim, hipnotizante e cobiçada, como o mais belo e raro cetim;
e resplandecente, como a mais macia e delicada seda.