por Antonio Prata
"Eis que a Terra completa sua duo milésima décima segunda volta em torno do Sol (desde que pegaram Jesus para Cristo), e, mais um vez, olhamos para trás, tentando entender se neste balaio de gatos que chamamos de 'um ano' há alguma lógica, alguma tendência, alguma chance de matarmos nossa imorredoura sede de sentido.
A tarefa não é simples, pois nos 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos que duram o giro pelo rodoanel cósmico acontece de tudo um pouco - e vice-versa.
2011, afinal, será o ano em que o Corinthians foi chutado da Libertadores pelo Tolima ou aquele em que conquistou seu pentacampeonato brasileiro?
Devemos nos orgulhar da posse de nossa primeira presidenta e da razoável calmaria em meio às intempéries globais ou lamentar a queda de sete ministros, quase todos por indício de corrupção?
A polícia carioca subiu a Rocinha sem dar um tiro; da PM paulistana vazou o vídeo em que o soldado gritava "estrebucha!" para um homem baleado. E aí?
Não bastasse a infinidade de acontecimentos, um único fato ainda pode abrir-se a diferentes leituras. A morte de Bin Laden foi um momento de alívio para todas as suas vítimas passadas e futuras ou o instante em que Obama, o arauto da concórdia - e, vale lembrar, Nobel da Paz - meteu o Iluminismo e o colar havaiano no saco e adotou as mesmas práticas dos caubóis que tanto condenava?
Há, também, aqueles eventos simplesmente incompreensíveis para a maioria dos mortais, como a notícia que cientistas teriam encontrado a 'partícula de Deus'. Seria uma lasca da unha de Javé? A foto de um raio da aura do Espírito Santo?
Mistérios da física (ou da metafísica), que, como tantas outras questões, só serão solucionadas com o passar do tempo; a Primavera Árabe vai dar frutos ou as folhas amarelarão, em um frustrante outono? O movimento 'Ocupe' ajudará a diminuir a distância entre o 1% e os 99% ou virará só mais um bóton em uma mochila, no Espaço Unibanco de Cinema?
No fim das contas, a única afirmação que se pode fazer sobre 2011 é que, contrariando os temores trazidos pelas águas de março e janeiro, nos tsunamis do Japão e deslizamentos do Rio, o mundo não acabou.
Apesar das tragédias, e, mesmo sabendo o quão arriscadas são as previsões, ouso apostar que no futuro nos lembraremos deste ano com um sorriso no rosto.
Não pelo declínio de ditadores, pela autorização do STJ ao primeiro casamento gay ou por Neymar continuar no Brasil, mas por ser o ano em que as fotos do celular de Scarlett Johansson caíram na internet, recordando-nos que a natureza pode gerar o caos, a destruição e nos condenar a girar em torno do Sol, vez após outra, repetindo as mesmas perguntas sem respostas, mas, quando quer, é nota dez nos quesitos harmonia, alegria e evolução.
Que venha 2012!"